sexta-feira, 6 de abril de 2007

"à música" que há em Nós

É noite. Caiu a noite. Nem dei por ela! De repente vejo-me a correr por entre as ruas de uma cidade que não conheço, esbaforido, ansioso, perdido. Entro numa qualquer viela, sem saber onde vai dar e se nela me vou encontrar. Bato com as mãos num muro pintado de branco já sujo e paro. Percebo que algo me deteve, impedindo a minha enorme vontade de continuar. Porquê? Não sei. Sei que parei diante do nada, do escuro da noite, do branco desbotado.
Onde estou? Que beco é este, quem aqui mora? Volto para trás? Espero? Vivo? Morro e renasço? Rio? Choro? Grito, peço ajuda? Desmaio, finjo, bato, esperneio, deito fora a língua? Não.
Acalmo. Respiro. Tranquilizo a minha alma e pergunto-lhe de forma directa e segura o que faço ali. Ela sorri, morde os lábios e sensualmente sussurra-me ao ouvido palavras que me parecem ocas de sentido.
Olho em redor. Fisgo os olhos em cada detalhe e afinal percebo que ela, a minha alma, me tramou. Trouxe-me a um sítio conhecido, mas que eu havia esquecido durante horas a fio… sim porque a alma não mede o tempo como nós. Para ela, não existem anos, décadas e séculos… Afinal sou eu, num lugar comum a mim mesmo. Pronto a retomar do ponto em que desisti, em que arquivei, pensando que noutro beco estava a saída. Dá-me vontade de rir e de chorar ao mesmo tempo. Estou emocionado! Feliz! Sinto-me novo! Cai-me a pele devagar… toco o meu corpo… está nu, sem nada! Sem nada, sem nada! Sou vestido de Eu, de Mim, de Eu, no seu todo! Já me caiu a máscara que nem sequer pus, estou pronto para a viagem!
E o beco… já não o é.